06 janeiro, 2010

O TOMBO DO PAPA

A meu ver, não basta explicar a queda que o Papa levou pelo fato de uma mulher tresloucada se lançar sobre ele, jogando-o ao chão – no momento em que se dirigia ao microfone para proferir o clássico discurso daquela noite, o URBI ET ORBI . É preciso ir mais longe.
Tratava-se da mesma mulher que, no ano anterior, havia tentado fazer algo semelhante, sem o sucesso de agora. A insistência do gesto faz crer que era movida por uma intenção definida, mesmo que não consciente. Ainda que se diga que era uma mulher que sofria de perturbações mentais, talvez valesse à pena, nesse contexto, relembrar que a loucura tem seus desígnios – como disse Shakespeare, em uma de suas peças magistrais, pela boca de Polônio: “apesar de ser loucura, revela método”.
Admitamos que assim o seja, para ver onde nos leva o raciocínio da possível existência de um vínculo entre a celebração no nascimento de Jesus e a exclusão do Papa (o tombo) – tentada por aquela tresloucada, que insistia em dar ao Sumo Pontífice um tratamento idêntico ao que foi dado à figura da mulher, no texto religioso católico, que compara a família humana à da Santíssima Trindade, feita de “Pai, Filho e Espírito Santo”. A mulher, como se vê aí, está excluída. Tombada.
A exclusão da mulher nas três mais conhecidas culturas religiosas dos nossos tempos é de fácil verificação. No Islamismo a instituição da Burca é de conhecimento universal. No judaísmo religioso, as mulheres, até do aperto de mão social são excluídas.
Hoje dispomos de um conceito bem mais esclarecido para nomear esses comportamentos, que tem um disfarce religioso, mas não passam de Machismo.
O processo evolutivo, agora subsidiado pela globalização, abre caminhos para maiores integrações da mulher no avanço da civilização. Mas ainda não consegue impedir, em alguns casos, a cobrança mais violenta, como a desta mulher tresloucada.