02 dezembro, 2008

QUE É O TERRORISMO

É um velho equívoco esse de crer que tudo o que nomeamos, conhecemos com extensão e profundidade. Sempre que nos defrontamos com algo que desconhecemos basta-nos, na maioria das vezes, querer saber o seu nome e para que serve. Esse conhecimento superficial é o que se difunde e nos dá uma falsa impressão de que já sabemos, quando não fizemos mais do que catalogar o nome e a função de algo com que acabamos de nos defrontar e guardar na memória.
Quem quer ir mais fundo tem que se obrigar a maiores indagações, tipo: onde nasce e que usos fazemos daquilo que acabamos de nomear e arquivar na mente?

Não há quem não tenha passado por uma experiência de terror, e não tenha tido que lidar com ela, de alguma forma.
Ao nascer, todos nós passamos pela ameaça da morte, mesmo quando tudo, no final, dá certo. O nascimento, sabe-se, é um trauma, uma súbita e penosa interrupção de um longo período de conforto térmico e alimentar, durante o qual nem respirar é preciso.
Foi Otto Rank, um discípulo de Freud, quem cunhou a expressão Trauma do Nascimento. Esse trauma interrompe a comunhão original, que se deixa atropelar pelas contrações do parto. Em grau maior ou menor, passa-se depois, o resto da vida, ansiando recuperar, de múltiplas formas, em nossos relacionamentos, aquele estado unitário em que éramos um e dois simultaneamente.

É para esse estado de “terror sem nome”, soterrado no inconsciente, na linguagem do psicanalista Wilfred Bion, que nos lançam os terroristas, valendo-se da imprevisibilidade de seus ataques, de cuja revanche nem fazem muita questão de escapar. Querem mais é livrar-se das angústias do “terror sem nome”– um estado mental que precede a capacidade simbólica do recém nascido. É, pois, um estado mental incômodo e inominável. Mesmo que isso lhes custe o preço da vida, estão certos de que ela lhes será automaticamente devolvida, como rezam as promessas religiosas, de cunho hedonístico: 70.000 virgens os aguardam no céu.

Suas justificativas políticas não passam de uma racionalização, um salvo conduto, um mecanismo defensivo, que lhes facilita a aceitação dos encargos políticos, banhados no heroísmo das incumbências militares, absolutamente suicidas. Sonham ainda com a glorificação e o prêmio, em dinheiro, que deixarão para a família.
Os terroristas destas incursões são sempre pessoas jovens, que não só esperam essa ressurreição prometida por seus instrutores religiosos, como sentem, ainda necessidade de projetar para dentro de outras pessoas (os inimigos) a angustia do “terror sem nome” que os acossa desde cedo e os torna irrequietos e infelizes, quando crianças. Seus instrutores sabem reconhece-los, direciona-los e seduzi-los para o heroísmo mortal que os aguarda no desempenho de sua estupidez consentida– como no recente ataque a Bombaim.