29 julho, 2007

“O REI ESTÁ NU"


Na avaliação de situações complexas, sejam elas pessoais ou sociais, surgem, de repente, sinais inesperados, que vale a pena reconhecer, porque, raramente deixam de expor o que de mais íntimo se esconde na mente dos grupamentos humanos. E se esconde porque os componentes desse grupamentos querem ocultá-los. Fazem-no até o limite de suas forças de uso cotidiano.

Para ficar mais claro e ir direto ao assunto, comecemos pelas frases de Marta Suplicy, de quem se ouviu – e a imprensa glosou – que recomendava, aos passageiros aglomerados e revoltados com a bagunça nos aeroportos “relaxar e gozar” enquanto não chegasse a hora do embarque. O momento era de tamanhas angústias que o nível metafórico da frase retornou ao seu sentido concreto e ganhou ares de deboche, que ninguém perdoou. Todos entenderam ou sentiram que era ela a única que, naquele instante, podia fazer o que recomendava aos passageiros, degradados por uma espera acachapante. Mais ainda, ela já o fazia, indiferente ao sofrimento alheio.
Definitivamente, não é o que se espera de quem ocupa um cargo público. Pior ainda, seu cargo era de Ministro do Turismo. Suas desculpas, que não se fizeram tardar, não a isentaram, no entanto, da responsabilidade de ter posto à mostra um dos parâmetros de nossos governantes atuais. Os mesmos que para se elegerem acenaram – e ainda acenam – a bandeira da preocupação com a sorte dos “excluídos”, vitimados pelo egoísmo dos que facilmente trocam o sofrimento, a dor ou a chatice do cotidiano pelos resorts paradisíacos, de que o mundo está cada vez mais cheio.

Pouco depois a imprensa registrou o gesto obsceno do Sr. Marco Aurélio, também do governo, que exprimiu o alívio de saber que o desastre do avião da TAM podia ser atribuído ao próprio aparelho ou a qualquer outro fator, menos unicamente a uma pista mal cuidada, da qual era provavelmente um dos responsáveis diretos ou indiretos. O momentâneo alívio da culpa armou suas mãos para o clássico gesto do “fodam-se”, que todos conhecem – ainda que este seja, não obstante, o mais irrealizável de todos os palavrões.
Mas, tal como no caso de Marta Suplicy, a metáfora cedeu lugar à uma revolta dos que perceberam que os governantes e sua equipe estavam em busca de um alívio momentâneo, de um “relaxa e goza”.

Por último Lula, já não tendo mais para onde fugir dá início a mais um de seus discursos, dizendo que tem medo de viajar e que quando entra num avião entrega sua alma a Deus. O discurso é do Presidente, mas o parâmetro segue a trilha escapista de Marta Suplicy e de Marco Aurélio.
Todos querem entrar num avião confiando nos homens que os produzem, compram e conduzem os passageiros ao seu destino, vivos. Para muitos, até atravessar a rua não dispensa entregar a alma a Deus. A confissão de medo não é o requisito básico de um presidente e não justifica a eleição de ninguém para o cargo. Só faltou que dissesse: confiem em Deus e gozem.