21 dezembro, 2009

A UNIVERSIDADE E A MINISSAIA

O episódio da reação ao vestuário de uma aluna, que usava uma minissaia cor de rosa, dessas que estamos todos acostumados a ver, pelas ruas das cidades de hábitos ocidentais, teve extensa repercussão nos jornais. Dava para ver, de saída, a absurda intolerância, gerada no pátio de uma universidade, freqüentada por gente jovem, acostumada aos trajes das mulheres do nosso tempo. O vestuário feminino – todos o sabemos por observação direta – é cada vez mais ousado e excitante. As mulheres, de um modo geral, parecem mesmo empenhadas numa certa provocação erótica, que, atualmente, é amplamente “consentida” pela população masculina das grandes cidades. Aparentemente sem problemas.

O semi-desnudamento da mulher dos dias de hoje já não motiva respostas violentas e brutais, que terminaram por instituir aquele vestuário oriental (a burca) que ainda as cobre dos pés à cabeça nos países regidos pela cultura muçulmana. Nos tempos bíblicos mulheres suspeitas de algum comportamento sedutor eram facilmente apedrejadas em praça pública.

Não é preciso descer a grandes profundidades psicológicas para entender que a imposição da burca foi sempre uma determinação do machismo dos primeiros tempos, que ainda subsiste em todas as civilizações, com diferentes expressões. O machismo sempre se aproveitou da fragilidade feminina, própria do período da reprodução e da criação imediata dos filhos, para assumir um domínio total sobre o comportamento das mulheres, que os homens escravizavam à sua volta, dentro de casa. Mas, não se trata de um domínio qualquer. É antes, e acima de tudo, um tornar-se proprietário, dono da sexualidade feminina, para poder mitigar a inveja inconsciente que o atormenta. O homem não suporta precisar tanto do que ele muito gosta, mas não tem. Não faz parte de seu corpo.

Há inúmeras outras expressões desta mesma inveja que se traduzem pela desvalorização da inteligência da mulher e pela retribuição salarial menor do trabalho feminino. Todas estas variadas imposições vão, cada vez mais, ganhando menor validade e aceitação. Há, hoje, uma progressiva expansão do reconhecimento das capacidades femininas em todos os campos: profissional, intelectual, político esportivo e artístico.

Contudo, há também momentos regressivos. As agressões à moça da minissaia cor de rosa é um deles. Isto quer dizer que o machismo não está definitivamente vencido e que pode fazer inesperadas aparições até em ambientes universitários, onde menos se poderia esperar que fosse expor suas garras. Nem tudo que é atual é necessariamente novo.