08 maio, 2009

CORRRUPÇÃO

A ‘farra das passagens’ é didática. Ensina, claramente, como é que a coisa se dá e porque se dá. A corrupção dos homens públicos só começa depois que eles ocupam as posições de poder, para as quais foram eleitos. Seus discursos pré-eleitorais são feitos de promessas e de denúncias das corrupções alheias nas quais não estão metidos e até poderiam jurar que não se meteriam. Corrupção tem seu timing e sua chegança própria.
É preciso já estar ocupando o poder e estar diante de um obstáculo de qualquer natureza que representa um limite ao poder de que cada homem se quer investido. Basta que a lei não o proíba explicitamente da transgressão, pela qual se sente tentado, para que se sinta livre para o salto da corrupção, a que logo se entrega em estado de pureza ou cercado de argumentos ‘convincentes’, que na verdade não passam de racionalizações auto-defensivas.
A corrupção começa na mente e é um jogo sutil de permissões que reforça o sentimento de poder, gratifica a auto-estima e bloqueia a autocrítica. A sedução pelo poder está em toda parte e nasce da intolerância à fragilidade intrínseca à condição humana. Embora esteja em toda parte é mais facilmente visível nos políticos, nos quais está sempre se pondo à mostra uma vez que a vocação política está sempre em busca do poder e da visibilidade absoluta. A corrupção muitas vezes não passa de um jogo de sutilezas verbais, facilmente reconhecíveis quando se está atento para esse tipo de falsa inocência, como a daquele deputado que disse não ter sido avisado de que não poderia pagar passagens para terceiros.
Contudo, crer que a corrupção só alcança quem está no poder implica no risco de estar se deixando corromper pela fácil isenção do auto-engano, que é capaz de todos os disfarces. Na verdade, a corrupção tem mil faces.