OS TIROS DO REVEILLON
(a bala caída)
É fundamental ficar esclarecido o episódio dos tiros no réveillon que acaba de passar. Percebe-se que a polícia está envolta numa perplexidade, aparentemente insanável, quando tenta explicar a natureza do episódio, cuja decifração não se entrega facilmente às mensurações balísticas do atual arsenal tecnológico de que dispomos.
Todo o medo, aparentemente, se resume na angústia de que, se nada se descobre, não vai ser possível contar com uma multidão igual e confiante no réveillon de 2008. Poucos vão se deixar convencer facilmente de que a “virada do ano” é um cerimonial isento de riscos, principalmente do risco básico que dá origem a essa celebração, agora espalhada pelo mundo, graças aos recursos da globalização.
Esclarecer a natureza desse risco – tarefa inegavelmente necessária – implica, no entanto, também, em correr o mesmo risco, porque significa desvendar o segredo do reéveillon, uma festa que nasce do medo de morrer, que se esconde por trás de todos os rituais mágicos, ostensivamente exibidos nesta noite em que, inconscientemente, tememos desaparecer, junto com o velho ano, que se extingüe.
Comecemos pelos ritos mais ostensivos que são os de aplacar pai e mãe com oferendas clássicas: comidas, flores e perfumes para Iemanjá – a mãe d’agua, e fogos de artifício para o espaço aberto do céu, habitado pelo Deus ou pelos Deuses de que emanam as luzes brilhantes e coloridas, como esses foguetes procuram imitar.
O vestuário clássico e recomendável para esta noite são os trajes brancos, íntimos ou expostos, para simbolizar a pureza e a ausência de pecados, que cada um deseja mostrar, para se fazer merecedor de mais um ano de vida, para se salvar da morte a que está exposto o ano, que naquela data, naquela noite, vai expirar às 24 horas, aos olhos de todos, inexoravelmente.
Como se tudo isso ainda não bastasse, há que desejar um feliz ano novo aos que estão próximos e receber idênticos augúrios, acompanhados de abraços, beijos e cumprimentos. Há uma infinita variedade de ritos e celebrações que, a partir da meia noite, dão por assentada a aspiração de todos e de cada um, que é ter transposto os umbrais do ano novo e deixado de morrer junto com o ano que ali se extingue. O reveillon celebra uma vitória sobre a morte, de que escaparam os que estão celebrando o ano novo, recém-nascido. Essa é a crença, o conto da carochinha pelo qual nos deixamos envolver e iludir. Quem é que não sabe que os calendários não passam de invenções humanas? E quem, neste exato momento, deseja sabê-lo?
Todo este festival de mitos e crendices cai por terra quando alguém ou alguns dos festejadores – possivelmente os mais assustados – resolvem fazer uma celebração pessoal e, sacando seu revólver, direcionam-no para o céu, puxando o gatilho, sem nem pensar no retorno das balas, que ao cair de volta vão ferir alguém ou alguns - como ocorreu agora neste réveillon.
Só que não foram balas perdidas, nem direcionadas, mas caídas. A balística dos mitos gerou, agora, num salto, esta nova figura: a bala caída.
É fundamental ficar esclarecido o episódio dos tiros no réveillon que acaba de passar. Percebe-se que a polícia está envolta numa perplexidade, aparentemente insanável, quando tenta explicar a natureza do episódio, cuja decifração não se entrega facilmente às mensurações balísticas do atual arsenal tecnológico de que dispomos.
Todo o medo, aparentemente, se resume na angústia de que, se nada se descobre, não vai ser possível contar com uma multidão igual e confiante no réveillon de 2008. Poucos vão se deixar convencer facilmente de que a “virada do ano” é um cerimonial isento de riscos, principalmente do risco básico que dá origem a essa celebração, agora espalhada pelo mundo, graças aos recursos da globalização.
Esclarecer a natureza desse risco – tarefa inegavelmente necessária – implica, no entanto, também, em correr o mesmo risco, porque significa desvendar o segredo do reéveillon, uma festa que nasce do medo de morrer, que se esconde por trás de todos os rituais mágicos, ostensivamente exibidos nesta noite em que, inconscientemente, tememos desaparecer, junto com o velho ano, que se extingüe.
Comecemos pelos ritos mais ostensivos que são os de aplacar pai e mãe com oferendas clássicas: comidas, flores e perfumes para Iemanjá – a mãe d’agua, e fogos de artifício para o espaço aberto do céu, habitado pelo Deus ou pelos Deuses de que emanam as luzes brilhantes e coloridas, como esses foguetes procuram imitar.
O vestuário clássico e recomendável para esta noite são os trajes brancos, íntimos ou expostos, para simbolizar a pureza e a ausência de pecados, que cada um deseja mostrar, para se fazer merecedor de mais um ano de vida, para se salvar da morte a que está exposto o ano, que naquela data, naquela noite, vai expirar às 24 horas, aos olhos de todos, inexoravelmente.
Como se tudo isso ainda não bastasse, há que desejar um feliz ano novo aos que estão próximos e receber idênticos augúrios, acompanhados de abraços, beijos e cumprimentos. Há uma infinita variedade de ritos e celebrações que, a partir da meia noite, dão por assentada a aspiração de todos e de cada um, que é ter transposto os umbrais do ano novo e deixado de morrer junto com o ano que ali se extingue. O reveillon celebra uma vitória sobre a morte, de que escaparam os que estão celebrando o ano novo, recém-nascido. Essa é a crença, o conto da carochinha pelo qual nos deixamos envolver e iludir. Quem é que não sabe que os calendários não passam de invenções humanas? E quem, neste exato momento, deseja sabê-lo?
Todo este festival de mitos e crendices cai por terra quando alguém ou alguns dos festejadores – possivelmente os mais assustados – resolvem fazer uma celebração pessoal e, sacando seu revólver, direcionam-no para o céu, puxando o gatilho, sem nem pensar no retorno das balas, que ao cair de volta vão ferir alguém ou alguns - como ocorreu agora neste réveillon.
Só que não foram balas perdidas, nem direcionadas, mas caídas. A balística dos mitos gerou, agora, num salto, esta nova figura: a bala caída.
About: Waldemar Zusman
Site: Vértice Psicanalítico