ENTENDIMENTO INDIGESTO DA ANOREXIA
Poucos acreditam que o fator estético seja a maior das justificativas para se levar uma privação alimentar a extremos tais que conduzem inexoravelmente à morte. O próprio anoréxico não se dá conta de que mente para si mesmo, ou melhor, de que suas justificativas não são senão uma forma disfarçada do suicídio, com o qual ele firmou um compromisso inarredável e bem dissimulado até para si próprio.
Tudo depende de como se lida com a fome, desde quando ela se apresenta a nós no começo da vida extra-uterina, quando se interrompe a alimentação umbelical. A fome é uma sensação incômoda e, se não satisfeita, ela nos mata. Por isso é que dizemos que temos que matar a fome.
A expressão é comum, todos a conhecem sem maiores explicações. Para a maioria dos seres humanos o problema encontra certo apaziguamento e, em grau maior ou menor as pessoas se ajustam ao seu biotipo hereditário: magros, atléticos e gordos.
Os anoréxicos e os bulímicos (esses que comem até vomitar), no entanto, não encontram uma forma adequada de lidar com a fome, já que esta lhes parece uma "encarnação da morte". Os anoréxicos querem matar de fome a própria fome. Algumas modelos quando se vêem magras sentem-se triunfando, cada vez mais próximas da vitória final, que no entanto, também, as mata.
É bem visível que tanto os anoréxicos quanto os bulímicos, num nível inconsciente profundo, pagam o preço de um problema mal elaborado com a imagem internalizada de sua mãe, com o seu seio, em sua realidade interna. Os anoréxicos não perdoam a mãe que os obriga ao convívio com a fome, e querem matar a mãe interna, por idêntica imposição: de fome; os bulímicos nem querem ouvir falar de fome e por isso se dão um alimento constante e, com isso, se representam melhores que sua propria mãe, que dispensam arrogantemente.
A anorexia e a bulimia às vezes co-existem, alternadamente numa mesma pessoa.
No fundo, é uma patologia semelhante à dos homens-bomba islamicos, jovens, que não passam de deprimidos-suicídas, que desfilam nas passarelas do heroismo, embalados nas promessas de um hedonismo celestial, aplaudidos pelos que os preparam, mas escolhem sobreviver.
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