22 setembro, 2006

A IGUALDADE É O ÓPIO DA INVEJA

O preço da inveja é o que se paga por não suportar um verdadeiro convívio com ela. O campo é ilimitado porque a inveja se manifesta em todos as áreas da mente, tanto conscientes quanto inconscientes.
Este convívio não é nada fácil. Tem suas características peculiares. Tendo sido listada pelas religiões entre os pecados capitais, todos a negam ou se recusam a reconhecê-la.
Negar a inveja ou brigar com ela impede o necessário convívio, sem o qual o reconhecimento não se dá.
Há outros sentimentos de difícil convívio como o ciúme, a voracidade, a arrogância, o medo, etc... Há que saber reconhece-los e aprender a conviver com eles. Tal como a inveja, fazem parte da personalidade humana e não há como extraí-los, como se costuma fazer com um ciso cariado. O conceito de convívio traz implícita a idéia de tempo, é uma coisa demorada.
A inveja tem muitas faces e não há como conhecê-las sem paciência. . Todo mundo sabe que esperar é difícil. A ânsia do vir a ser, de logo alcançar o que se espera, o que se deseja, o que se quer, é um grande complicador.
Uma vez que não dá para ficar livre da inveja o jeito é conviver com ela, conhecer suas múltiplas faces, seus disfarces e suas maquiagens. Uma vez que se chega lá – e só então, - é que se conhece o prazer de ter desmontado a trama da inveja. Só então é que se percebe o quanto contribuíamos com o melhor de nós para ficarmos empobrecidos e carentes de auto-estima.
Todo processo da inveja começa por uma comparação entre mim e o outro. Há algo que o outro é ou tem e que eu não tenho, mas gostaria de ter ou ser. É uma qualidade, um bem, uma posição. Embora o processo da comparação seja necessário e justificável em inúmeros momentos de nossa vida, ele não se aplica à comparação de qualidades humanas. Os seres humanos são incomparáveis. Cada pessoa é uma soma extraordinária de infinitos arranjos integrados, que o processo comparativo não alcança para dar conta de seus propósitos.
Pode-se admirar qualidades alheias sem fazer comparações. Aplaudir.
O resultado de uma comparação, seja ela da beleza, da inteligência ou de qualquer outro aspecto como posição social, riqueza ou poder arrasta o comparador (o invejoso) para o fundo de um poço de rebaixamento da auto-estima, do qual ele já não mais poderá sair, por imobilização depressiva.
Só lhe resta, então encontrar um jeito de destruir quem possui o que ele não tem. Assim se extinguirão as diferenças e a inveja se acalma – ilude-se o invejoso. Nesta fase o invejoso começa a ter necessidade de destruir o objeto invejado, denegrindo-o. Alguns fazem disso um propósito central de suas vidas.
Foi assim com Marx, por exemplo. Suas articulações conceituais, inteligentes, deixam muito a desejar. Ele era filho de família pobre e não se firmava nos seus empregos. Não ganhava para o seu sustento, nem o de sua família. Era Engels, de família rica, era quem o ajudava. Ele achava que a igualação das posses materiais acabaria com os problemas sociais. O conceito de igualdade parecia ser a chave de tudo. Era como se só houvesse justiça quando houvesse igualdade. Essa foi exatamente a proposta da inveja, que o ofuscou. Já é hora de entendermos que a igualação se parece muito com esses remédios poli-vitamínicos, que são apresentados como capazes de curar todos os males.
Não foi difícil convencer os pobres de que eles foram roubados pelos ricos. Se não os de agora, então por seus pais ou avós, como disse o lobo ao cordeiro, na fábula de La Fontaine. Os proletários passaram depois a ser chamados de despossuídos, como agora é moda. Os invejosos de todo o mundo se uniram e aceitaram a proteção da classe média, especialmente dos intelectuais, que dão à sua inveja o mesmo tratamento que Marx deu à dele.
O fracasso das experiências comunistas no plano social, no campo da realidade, no entanto, não os demoveu, porque eles ficaram subordinados ao mito marxista, que tomou o lugar do mito criacionista, e virou uma Concepção de Mundo. Os conceitos marxistas disputaram e ainda disputam com as religiões o lugar de “ópio do povo”.
A experiência brasileira, muitíssimo atual, deixa bem claro que o número de escândalos, que a cada momento vêm à tona, tem origem maior nas hostes do PT, um partido que nunca negou seus vínculos marxistas. Esse é o partido que denunciava a corrupção burguesa, na câmara.
Agora, já é bem evidente que as denúncias nasciam da inveja, transvestidas de justiça e compaixão. Tão logo se aproximaram da boca do cofre esqueceram-se dos seus discursos igualitários e se entregaram a todas as corrupções para ver se se livravam da inveja, que não lhes dava nem sossego e nem descanso. A fome de dinheiro tomou o lugar do discurso da igualdade.
Orwell conta no seu Animal Farm que depois de terem concordado em que seriam todos iguais, surgiu um grupo que, sorrateiramente, se queria mais igual do que os outros.

12 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Uau, dr. Zusman! Sua análise faz muito sentido! Mas como explicar os que sempre possuiram bens e são petistas fanáticos, especialmente no meio universitário? Para eles, o Lula pode assassinar uma velhinha a bengaladas, que eles acharão jeito de justificá-lo e lançar a culpa sobre a anciã. Bom fim-de-semana,
Stella

2:34 PM  
Blogger Sujeito Oculto said...

Esses animais eram os porcos, não é à tôa. Aliás, uma coisa interessante: o animal que mais se assemelha ao humano em sua anatomia é o porco. Até a pele e a válvula cardíaca são iguais (algumas mais iguais do que as outras).

Mas, meu caro Zusman, existe uma simplificação em seu texto: o PT, como outros partidos, tem seus quadros podres que foram necessários para se chegar ao poder. São os sindicalistas, que passam a vida vivendo do imposto sindical, e foram presenteados pelo presidente com cargos administrativos. Que sabem eles disso? Nada.

A política no Brasil não existe sem suas falcatruas e sua corrupção, o que é triste. A reforma política não será feita porque prejudica os congressistas atuais, que são quem deveria aprová-la. O país está condenado a essa lama e se move como pode tentando não afundar demais.

Também discordo de Marx, o mundo não existe sem seus pobres e ricos (e classe média?), mas o comunismo implantado no planeta pouco teve a ver com sua própria descrição: queimaram-se etapas, como a industrialização, e ele foi implantado de forma vertical. Como no livro de Orwell ou como nas revoluções bolivianas, foi apenas um artifício para mudar o dominador – mas manter o dominado.

4:59 PM  
Blogger Zusman said...

Prezada Stella.
Grato por seus comentários.Não é dificil explicar porque pessoas ricas apoiam as posições da esquerda. Eles têm tudo no que tange ao conforto material, mas não se dão conta que inconcientemente se sentem culpados de que outros não tenham. Por isso ficam do lado dos pobres contra si próprios, para que não se suspeite sequer de que foram eles que, por egoismo quiseram tudo para si. Isto quer dizer que eles acreditam naquela fábula de La Fontaine que diz que eles ou seus antepasados produziram os pobres de hoje. É um jogo de disfarce de nível inconsciente.
Para essas pessoas, aplaudir as bengaladas que Lula daria numa velha faz parte de um outro jogo: o de fazer a corte a quem está punindo outros e não a eles próprios, inconscientemente culpados.

8:59 PM  
Anonymous Anônimo said...

Muito bom, Zusman!
Ótima aula de inveja, clara e depois bem articulada com o texto anterior do teu blog e com o momento político atual.
Enviando assim fui tentada e obrigada a ler imediatamente.
Um grande abraço

9:11 PM  
Anonymous Anônimo said...

Você está falando veladamente do lumpesinato que rodeia o poder e que na
era Lula aumentou-se a si mesmo de forma estonteante? Teria mais o que te
dizer, já que você está afim de falar linguagem normal, comum, de leigo sem
deixar de lado o tudo que sabe sôbre dinâmica psiquica. Sou da Sociedade
de S.Paulo e venho há tempos tentando fazer esta transposição/condensação

9:17 PM  
Anonymous Anônimo said...

Meu caro Zusman:

Muito obrigado por seu lindo, consistente e prenhe de conteúdo, os seus comentários sobre a inveja.

Sempre pensei assim, porém, a colocação sua da de uma forma tão adamantina, mostrando a inveja, e suas conseqüências, em suas múltiplas relações, fez-me vê-la por um outro e novo vértice.

Anotei seu blog, penso que temos muito a ganhar em visitá-lo.

Por outro lado, “salvarei" seu texto para que possa citá-lo, ou dar para os candidatos, como uma forma muito expressiva do que a inveja é, ou onde ela esconde ser.



Espero que tudo esteja bem com você.



Com grande e saudoso abraço,

9:23 PM  
Anonymous Anônimo said...

Olá, Zusman. Este teu texto sôbre a inveja me despertou mtos pensamentos. Gostei mto do texto. A tentativa de ´igualar` para evitar o sofrimento desencadeado pela comparação de qualidades humanas não-comparáveis, ´If I were you!`, desperta tanta compaixão, ´dó`, qto o ´virar as costas para as ´uvas verdes``. Que convivência difícil q os budistas procuram encarar, junto com a ira e a ignorância (?), q estão no ´centro` da Roda da Vida (Dharma) para alcançarem a ´iluminação`. Mas, cá pra nós, o ideal comunista é ´De cada um segundo suas possibilidades a cada um segundo suas necessidades`; isto não é ´igualdade`, e sim ´diferença`, não?
Um grande abraço.
Flávio.

1:40 PM  
Blogger Unknown said...

Quanta imbecilidade ñ tem vergonha de usar a obra e o nome de freud pra uma critica rasa, tendenciosa e mal formulada como essa?
Começa a ler meu filho!
claro q a aprovação do comentário tera de passar pelo seu crivo, fascinante.

1:00 AM  
Blogger Zusman said...

Cara Lizandra, que leituras você me sugere?

10:47 AM  
Anonymous Anônimo said...

Bom Dia:
Admiro muito quem se manifesta e transmite a sua opinião, mas abre uma janela muito grande de críticas. Admito que discordo bastante do final do texto do senhor por dois motivos: Nunca se terá um partido ou uma classe em que todos pensem da mesma forma ou que nenhum ou todos roubem, e, a partir do momento em que se deu autonomia para a polícia federal apareceu todo tipo de corrupção que antes estava escondido (em parte é claro). Dito por um corregedor da PF: nunca se trabalhou tanto como hoje. O PF não tem descanso e quanto mais se procura, mais se acha! Abraço e fique com Deus. Só o amor e o sorriso conseguem quebrar a inveja.

10:15 AM  
Anonymous Anônimo said...

Muito bom o texto, mas será que o senhor não estaria alimentando uma pontinha de inveja tambem pelo PT. Eu sei que é difícil admitir que pessoas ascendam mais rapido do que a gente sem nos deixar com "vontade". Se o senhor não publicar é por que está em dúvida... Abraço.

10:29 AM  
Blogger vivian said...

Acredito que todos temos essas tendencias de diminuir ou nos compararmos com o outro, mas a verdade e que temos sim que detectar quando estamos sentindo inveja para tentar nos doutrinar ao inves de cultivarmos a inveja :), todos temos capacidade de sermos felizes..

7:15 PM  

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