O QUE DEU NA CABEÇA DE ZIDANE
Sabia-se que Zidane anunciava o encerramento de sua exitosa carreira esportiva, internacionalmente reconhecida e aplaudida. Havia uma festividade preparada para a celebração deste êxito apoteótico.
A intempestiva cabeçada de Zidane nos minutos que precederam o final da prorrogação fez crer que um fator de enorme importância se sobrepôs àquele grande final que ele preparara para sua despedida gloriosa.
Logo se começou a querer adivinhar o xingamento com que fora atingido pelo jogador italiano, com quem acabava de disputar uma bola. Transpirou então que Materazzi falara mal de sua mãe e sua irmã. Para muitos, os xingamentos justificavam a cabeçada. Para outros, no entanto, o gesto de Zidane soava como uma resposta exagerada aos insultos de Materazzi.
Afinal, Zidane era já um pré- quarentão e tinha bons motivos para postergar um possível acerto de contas com Materazzi. Ademais, isto se sabe e se vê: jogadores estão sempre se agredindo física e verbalmente, durante a partida. Mas, tudo se acaba junto com o lance e com o apito do juiz.
Que outro fator poderia ter levado o jogador francês ao desespero da cabeçada? O jogo estava empatado e em poucos minutos se encerraria. A resolução iria se dar por pênaltis.
Zidane sabia que ele seria convocado para este chute. O temor de que não fosse marcar o gol da vitória e assim não fechar com selo de ouro sua última partida, seu último chute, pode tê-lo levado a supervalorizar os xingamentos de Materazzi. Acertar no italiano era mais seguro. E foi.
Levado pelo medo acertou Materazzi bem no meio do peito. Na hora do medo, virou machão. Foi uma cabeçada de quem perdeu a cabeça. Esqueceu o futebol e partiu para a barbárie... e mergulhou de cabeça.
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