03 junho, 2007

NARCOTRAFICANTES E NARCOTRAFICADOS

A guerra da polícia com os narcotraficantes, como se vê todo dia nos jornais, obriga a algumas reflexões. Apesar de estar muito mais bem municiada a vitória não se define a favor da polícia. E ainda tem o problema das balas perdidas. Os narcotraficantes estão estrategicamente mais bem posicionados - isso logo se vê - no alto dos morros. Mas a definição geográfica desta supremacia não resume a questão. Talvez, tenha muito mais a ver com a supremacia social dos narcotraficados, dos que compram e consomem as drogas. O uso de drogas é um fenômeno universal, milenar e aparentemente inextinguível.
A toxicomania, no entanto, não é uma decorrência direta da riqueza de que se é possuidor. pessoas ricas que não são drogaditas. Por outro lado, nem todas as drogas produzem exatamente os mesmos efeitos. entre os consumidores uma certa seletividade. Mas também uma certa unanimidade de resultados com diferentes drogas, sejam elas de absorção oral, nasal ou parenteral. Todas as drogas- e aqui se inclue o álcool, em todas as suas apresentações- geram invariavelmente um sentimento de bem estar e um aumento das fantasias onipotentes.
Ao se sentir "poderoso" o drogadito se permite a satisfação de todos os desejos, bem como a realização de todos os prazeres ao seu alcance, sem o cerceamento interno das proibições morais.
É uma vitória sobre o super-ego, à qual se quer sempre retornar.
Aos narcotraficados, viciados na realização de saborear o néctar e o manjar dos deuses, corresponde a realização onipotente do poder sem limites, que os narcotraficantes perseguem quando se atribuem o direito de matar quem não os remunera de imediato, ou quer proibí-los de vender sua droga.
A drogadição e a narcotraficância não são meros vícios. São uma "concepção de mundo" que não aceita a fragilidade e o desamparo da condição humana. Não dá para esperar pela realização post-mortem das promessas religiosas e nem para acreditar nas ideologias políticas , que também prometem um mundo paradisíaco para mais tarde. Não dá para esperar tanto. Tem que ser aqui e agora: é na base do "fui".

3 Comments:

Anonymous Anônimo said...

ola dr waldemar zusman, parabens pelo post. Realmente esta é uma quetão que não se vê o fim. Os traficantes se alimentam e se fortalecem da fraqueza dos adeptos da droga. Mas existem também os traficantes da elite. Esses que vendem em apartamentos da Zona Sul e nesse caso, ao invés de subir o morro para consumir a droga, basta se elevar até o andar de um prédio de luxo.

Um abraço!

Walter Spolidoro

4:10 PM  
Anonymous Anônimo said...

Prezado Zusman

Gostei deste seu Post, mas achei muito resumido. Gostaria de que falasse um pouco mais do assunto, ja que voce colocou os narcotraficantes na mesma categoria dos drogaditos ou narcotraficados. Gostei da ideia mas queria compreender melhor e mais fundo. Um grande abraço do seu admirador anônimo.

12:43 PM  
Blogger Zusman said...

Expandindo um pouco mais o tema:
Narcotraficantes e Narcotraficados


Meu simpático Anônimo. Agradeço seu interesse pelo tema e vou tentar ser mais explícito. Procuro ser sintético no que escrevo, atualmente, nos meus posts, porque ninguém tem muito tempo para textos muito longos.
Meu propósito básico era dizer que nesta questão das drogas, que abarca o mundo inteiro, há mais semelhanças entre traficantes e droga-aditos do que
parece à primeira vista. O denominador comum a ambas as posições é a busca de um estado emocional a que se dá o nome de onipotência e que se pode alcançar de muitas formas. O estado mental de quem se julga todo-poderoso, invencível, etc. configura o quadro da onipotência, embora isso não passe de uma fantasia. Sabe-se que narcotraficantes não perdoam “vacilos” – matam. Assaltantes matam o motorista que não se submete a suas ordens e tenta fugir, acelerando o carro. Roubar passa para segundo plano. A onipotência “não tolera desaforo” e ganha a guerra. A traficância da droga é uma “viagem”, tanto quanto a ingestão da mesma também o é. Ambos são afluentes da onipotência. O álcool e o fumo são afluentes das mesmas águas. A bebida alcoólica age por processos químicos. O fumo por recursos psicológicos. O/a fumante se identifica psicologicamente com uma figura idealizada ( tipo “homem de Malboro”, o pai, um amigo/a) que ele/a viu fumar, de tragada em tragada. Faz, sem nem mesmo se dar conta do herói/ina com quem se identifica, inconscientemente.
A fome de onipotência nasce da não conformidade com a fragilidade da condição humana, de que resultam dores e incômodos. Quem não suporta o desamparo e a inexplicabilidade da existência, lança mão de múltiplos recursos. Por exemplo, elege um deus, uma figura onipotente por definição, de quem espera proteção e salvação, em troca de preces e submissão a quem o representa, como ocorre em todas as crenças.
A diferença entre as crenças e as drogas é que estas últimas são de atuação imediata, a “viagem” começa quase logo após a ingestão. No caso das crenças tudo fica postergado para após a morte: redenção e ressurreição.
As ideologias políticas fazem propostas semelhantes, pelas quais há que esperar menos tempo para gozar das benesses desejadas e prometidas pela evolução histórica.
Mas narcotraficantes e narcotraficados podem ser tomados por imortais porque cada geração produz substituição para os que se foram. Não adianta matá-los. Só a consciência da onipotência e uma percepção lúcida de suas tolas promessas pode livrar o ser humano desse beco-sem-saída.

9:58 AM  

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