21 abril, 2007

AS TRAGÉDIAS DAS ESCOLAS AMERICANAS


Quando menos se espera explode uma tragédia numa universidade americana, como essa da Tech University da Virginia, absolutamente imprevisível e, até certo ponto, inexplicável à luz do senso comum.
Indo de fora para dentro o primeiro fator que se aponta é o da facilidade com que se compram armas na maioria dos estados americanos. Mas, a facilidade da compra de armas mal pode justificar a qualidade do massacre, já que esse argumento exclui o autor da insensatez e deixa de lado o exame das razões pelas quais alguém se decide por matar um bando de pessoas, escolhidas a esmo, para em seguida matar-se também.
É que ninguém fica muito tranqüilo ao tomar contato com certos aspectos da condição humana, de que não se quer saber com maiores detalhes. Toda a investigação da mente é necessariamente abarcativa e alcança o próprio investigador, como já o demonstrou a psicanálise. O medo e a curiosidade caminham juntas, e, às vezes se atropelam levando a conclusões simplificadoras, como essa da livre aquisição de armas.
O sul-coreano deste último massacre deixou muita coisa escrita sobre suas motivações, e sobre ele surgiram vários relatos que permitem, de imediato, perceber que se trata de um indivíduo com graves perturbações emocionais, facilmente observadas por pessoas leigas do seu convívio cotidiano. Era um deprimido grave, logo se deduz. Pessoas de sua família já o descreviam como portador de um comportamento exótico e desconfiavam de sua sanidade mental. Ficou evidente nos bilhetes que deixou que ele invejava os colegas ricos e de melhor posição social. Até ai, nada de tão extraordinário.
A inveja é um componente comum da personalidade humana. Uma de suas mais constantes atividades, na mente, é a de fazer comparações e de levar o indivíduo a querer ser o outro e a ignorar seus proprios valores. Daí a achar que é o outro que o degrada é só um passo, do qual decorre um rebaixamento de sua auto-estima. O assassinato seguido de suicídio, ainda que justificados por um "martírio pelo bem da humanidade", provavelmente encobrem uma estruturação psicótica da personalidade, cuja compreensão exigiria maiores profundidades de investigação.

6 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Nem "quando menos se espera" nem "imprevisível". Estatisticamente já estava na hora disso acontecer. Faz tempo que nenhum americano comum sai matando gente por aí no seu próprio país (pois no país dos outros é o pão de cada dia. Afinal como vão sobreviver os fabricantes de armas pesadas?). Incrível como o coreano aprendeu o "american way of life"!
Na Coréia do Sul essas coisas não existem.

4:15 PM  
Anonymous Anônimo said...

Caro Waldemar
Você vai ao cerne da questão: a inveja. Realmente todos os escritos e vídeos do assassino múltiplo mostram que a base do seu ato foi a mais violenta inveja de seus colegas e sua inteção nitidamente era se vingar do sentimento de humilhação.
Apesar de mentalmente perturbados estes assassinos sabem escolher onde atacar. "Locos pero no tontos"! Sabe-se que a Virginia Tech há anos é um College "gun free", quer dizer, é proibido entrar armado e o cara sabendo disto sabia também que não enfrentaria oposição de monta pois estavam todos indefesos exatamente pela proibição de armas. Se não fosse isto, certamente alguns alunos ou professores armados o teriam abatido antes que conseguisse matar tantos.
Exatamente o que ocorre no Brasil com o famigerado "estatuto do desarmamento" que torna as pessoas de bem presas fáceis dos bandidos que sabem que podem cometer o crime sem risco de revide.
O interessante é que os defensores do desarmamento dos cidadãos de bem omitem o fato de que a taxa de homicídios nos USA é metade da taxa brasileira.

Heitor De Paola

4:17 PM  
Blogger Zusman said...

Prezado anônimo

Seu comentário salta por cima do sentido básico do meu "post", que está direcionado ao problema emocional. Qualquer ser humano, em qualquer parte do mundo, é capaz de fazer o que fez o sul-coreano, movido por circunstâncias internas e/ou ajudado por facilidades externas. O movel do crime não é a abundância de armas. Mesmo quando as armas são de fácil aquisição, poucos fazem o uso que o sul-coreano fez. Meu texto resulta de uma "blogada com Freud" e obedece a um vértice psicanalítico.
Grato. Zusman

6:24 PM  
Blogger Zusman said...

Caro Heitor
Grato pelos amáveis comentários.
Está bem claro que o coreano é um doente mental e que seu suicídio é um ato que dispensa muitas armas para ser cometido. Uma só bastaria. É um suicídio que disfarça sua insana crueldade com slogans martirológicos.
Grande abraço do Zusman

6:37 PM  
Blogger Sujeito Oculto said...

Caro Zusman,
a sociedade pode ser muito cruel com a diferença. Não é apenas a inveja, mas o desejo de pertencer, de ser mais um. Entendo o que ele fez. Como disse o anônimo, lá em cima, era só uma questão de tempo. Até o fim do ano teremos outro. Até mais!

7:14 PM  
Blogger Zusman said...

Meu caro Sujeito oculto

Grato pelo comentário, mas veja bem: o desejo de pertencer também pode nascer da inveja. Ou nasce da inveja ou da admiração. No caso deste coreano, creio mais na inveja.A admiração leva mais ao aplauso.
Até à próxima.
Zusman

12:00 PM  

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