22 agosto, 2008

A COMPULSÃO DAS GUERRAS

Freud trocou com Einstein uma breve correspondência sobre o problema das guerras, a que a humanidade está submetida desde o início dos tempos. Foi uma resumida troca de cartas, marcada pela inteligência de ambos os missivistas, mas limitadas ao espaço que eles concederam ao exame de um problema, que seguramente não é menor que aqueles a que cada um dedicou sua vida, no campo da investigação científica.
Os raciocínios de Freud, tal como os de Einstein, são, como de hábito, suficientemente claros e argutos. A civilização está empenhada no esforço de extinguir as guerras pelo recurso à criação de instituições internacionais de direito, capazes de dar uma solução pacífica e discursiva aos problemas que surgem entre as nações.
Ainda que pareçam absolutamente razoáveis estes propósitos não se cumprem frente ao que se espera deles. Talvez seja necessário explorar a dinâmica dos fenômenos compulsivos para descobrir se a questão das guerras não guarda uma relação vincular com hábitos cultivados por esta mesma civilização, que recomenda a prática de atividades esportivas, nas quais tudo o que sempre se busca é derrotar um outro time em sucessivos campeonatos internacionais, conhecidos como Olimpíadas. Há torneios menores, nacionais, mas os propósitos são sempre os mesmos.
Vale a pena recordar que o próprio nome destas atividades se reporta ao Olimpo, montes gregos na cidade de Olímpia, habitados por deuses, onde se realizavam competições destinadas a premiar um vencedor “imortal”, em diferentes áreas.
Ainda que as atividades esportivas de nossos tempos sejam batalhas submetidas a um regulamento determinado, há sempre um juiz para dirimir transgressões e punir brutalidades inevitáveis. E não é raro que a violência se sobreponha nos lances em disputa.
Todo o convívio social deste mundo que habitamos é muitíssimo regido por jogadas competitivas, que acompanham as atividades escolares, onde também sempre se disputam os primeiros lugares, como nas Olimpíadas. Enfim, quase todas nossas atividades sociais são regidas por processos comparativos intermináveis. Talvez valesse a pena examinar os fundamentos dessa compulsão de ser o mais forte, o melhor, o “imortal”, para ver se não reside aí o plantel de todas as guerras.
As olimpíadas fazem-se anunciar pelo ritual da “tocha olímpica”, que percorre o mundo, acesa, simbolizando a concordância do sol e expressando um convite ao local aonde irão se dar os combates destinados à eleição dos novos deuses, em diferentes misteres humanos.
A mídia internacional abre espaço à participação universal destas atividades míticas a que se entregam os seres humanos. Fazem-no, sem se darem conta de que cultivam as sementes de todas as guerras – que não são mais tão necessárias quanto já o foram em épocas muitíssimo mais remotas.

2 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Oi querido,

Como não consegui mandar pelo
Blog, aqui vai:
Gostei muito da tua visão das Olimpiadas, eu tinha um sentimento de nervoso ao ver as competições, como se estivesse fazendo algo errado...
Já bastam as competições expontâneas que são parte integrante das nossas vidas corridas...
Acrescento só um pensamento meu aos teus, o da nossa necessidade "do heroi" e do aspecto, a meu ver, positivo disso, que seria a busca dos nossos limites, descobrir por onde eles passam. Isso eu acho interessante, no que nos convida a olhar para o nosso presente e se o estamos vivendo. E se estamos usando, e de que forma, os nossos potenciais.
saudades da amiga e admiradora de sempre, Lucia

12:25 PM  
Blogger Flávio S. Armony said...

As instituições de direito são formas de submissão dos países mais fracos pela ordem, pelo direito, pelo jurídico, pois assim é menos dispendioso do que uma guerra, a mais violenta forma de conquista.

As Olimpíadas são também uma forma de reafirmação das potências sob a forma de potências desportivas, sendo que abrem espaço para algumas exceções.

11:57 AM  

Postar um comentário

<< Home