16 junho, 2008

PARAR DE FUMAR

O novo decreto, este que proíbe os fumódromos, impõe uma revisão dos problemas que decorrem do vício de fumar, com o qual os governos se envolvem, na tentativa de descobrir ferramentas hábeis, capazes de por fim a um velho hábito, que custa tanto ser compreendido. Os fabricantes de cigarro parecem entender melhor que os legisladores a motivação essencial dessa necessidade, mais ou menos constante, de ingerir ou tragar volumes de fumaça ao longo do dia.
Engana-se quem crê que a fumaça só carreia para dentro do fumante a nicotina e qualquer outra substância química residual, como destacam as propagandas anti–tabagístas.
O hábito de fumar se instala por imitação, ou, dito de outra forma, por identificação entre o que se dispõe à experiência e alguém do seu mundo que por alguma razão, secreta ou visível, ele admira. A cada sucção do cigarro o iniciante inala a imagem do fumante que ele admira, e com quem se identifica ao tragar. É claro que não se trata de uma imagem física. É muito mais uma representação conceitual de um herói, um vencedor, como é fácil perceber na propaganda dos cigarros que exibem a imagem de um militar que salta do seu jipe e celebra sua vitória com uma baforada exuberante. É este tipo de identificação com esse momento de triunfo que o fumante busca para seu instante de discreta ou mesmo visível ansiedade. É a crença no êxito deste recurso, que re-alimenta a vontade de fumar e leva ao aumento da dose, transformando o fumante inicial em inveterado.
No caso das mulheres que trabalham, a identificação com o homem se fortalece pela aquisição de alguns hábitos masculinos.

A propaganda anti-tabagística dá um tiro em seu próprio pé quando imprime nos próprios maços de cigarro a advertência dizendo que fumar faz mal à saúde, pode gerar câncer, etc.
O fumante que ao comprar seus cigarros toma conhecimento destas ameaças fica ansioso e busca, de imediato, acender o cigarro que vai reforçar aquela identificação de que falamos acima.
A recuperação de fumantes depende de uma identificação com alguém que não fuma e que ocupe o lugar do herói que o fumante introjetava, até que possa suportar os revezes da vida sem demasiadas exigências de proteção. Ou depende de uma decisão corajosa, sustentada. Viver não é fácil para ninguém.

2 Comments:

Blogger Flávio S. Armony said...

Compreendo o que quer dizer quando afirma que a mensagem no maço aumenta a ansiedade do fumante, que por sua vez a acalma dando umas tragadas. Mas essa advertência também faz aquele que vai comprar o primeiro maço pensar duas vezes antes de fazê-lo. Assim, ela pode ter um bom efeito a médio e longo prazo.

11:49 AM  
Blogger Zusman said...

Flávio,
o pensamento lógico autoriza o seu raciocínio, mas não é necessariamente assim. Quem vai comprar o seu primeiro maço de cigarro, já está vendido à fantasia de que o cigarro o transformará num homem forte, num herói. E mesmo que tussa, vai em frente.

12:01 PM  

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